domingo, abril 17, 2011

Faltam vagas em creches de Londrina

Creche Jardim Londrina

“Diariamente, atendemos mães buscando vaga para o filho. Algumas chegam chorando outras bravas. É muito difícil, mas não temos como atender.” Valmirane de Pinho, diretora do Centro de Educação Reverendo Jonas, na zona leste de Londrina, afirma que a lista de espera é de 130 crianças. “É praticamente mais uma escola. Hoje atendemos 116 crianças.”
No Centro de Educação Infantil Marabá, a diretora irmã Emília Costanze, vive o mesmo conflito diário. Não tem como atender todos que batem à porta. “Temos uma lista de espera de 200 crianças.”

Gisela Maria Vieira saiu do sufoco há pouco tempo. “Foi muito difícil. Fiquei meses esperando por uma vaga. Deixava o Gabriel com a vizinha, às vezes com minha irmã, às vezes faltava no trabalho.” No Conselho Tutelar da zona norte, Celina Barbosa conta que em média 10 mães, por semana, buscam vagas em creches.

A falta de vagas nos centros de educação infantil é um problema crônico em Londrina. De acordo com dados da Promotoria da Vara da Infância e Juventude, o déficit registrado até agosto do ano passado era de 7 mil vagas. A secretária da Educação, Karen Sabec, afirma que esse déficit já deve ter baixado para 5 mil. Hoje, 1.077 crianças de 0 a 5 anos são atendidas em 11 centros municipais de Educação Infantil (CMEIs), enquanto 6.327 são atendidos em centros de Educação Infantil mantidos por entidades filantrópicas (CEIs).

Otimismo

De acordo com a secretária, novas vagas serão abertas em breve. Serão 1.200 com as construções de quatro novos centros de educação já em andamento. Outros dois centros estão planejados, com mais 300 vagas cada um. “Paralelamente estamos ampliando algumas creches. Até o final do mandato [do prefeito Barbosa Neto] serão cinco creches ampliadas, oferecendo mais 100 vagas e mais uma construída na zona norte, com 300 vagas.” Há também investimento que será anunciado em breve, de acordo com a secretária, que prevê a construção de um CMEI, com 200 vagas, junto com uma escola fundamental.

Somando tudo, são 2.400 vagas, o que não supre mesmo a previsão mais otimista da Prefeitura, de déficit atual de 5 mil vagas, sem computar os nascimentos até o final do mandato. A secretária afirma que “é praticamente impossível adequar o número de vagas ao número de nascimentos” e que conta com abertura de mais vagas nas CEIs e CMEIs em funcionamento em decorrência da entrada mais cedo da criança no ensino fundamental. “Hoje, a criança que está com 5 para 6 anos já está indo para o ensino fundamental.”

Filantrópicas sofrem por recursos

A diretora da CEI Reverendo Jonas, Valmirane de Pinho, afirma que a lista de espera de 130 crianças poderia ser minimizada com a participação maior da Prefeitura na manutenção dos centros de educação. “Poderíamos ampliar a estrutura física e abrir mais vagas”, diz. Hoje, o Município tem um termo de cooperação técnica financeira com as filantrópicas na qual repassa um valor por criança atendida. Com o aumento de 12% recém concedido pela Prefeitura, são repassados R$ 182/mês por criança do berçário e R$ 121 por criança de 2 a 5 anos.

“Nós abrimos uma escola, então temos nossa parcela de responsabilidade, mas como atendemos uma necessidade da população e não particular, acredito que a Prefeitura deveria aumentar sua participação”, diz Valmirane. O valor repassado tem que ser utilizado para pagamento de pessoal, encargos trabalhistas, água, luz e telefone. “Não conseguimos pagar tudo”, diz.

A diretora do Centro de Educação Infantil Marabá, irmã Emilia Costanze afirma que com o repasse mensal da Prefeitura, ainda faltam R$ 5 mil no orçamento, que precisam ser complementados. Diariamente a creche tem que suprir essa falta, que hoje está marcada na infraestrutura do prédio. “Temos que reformar o telhado, quando chove há muita goteira; o freezer está enferrujado; os banheiros estão com infiltração”, enumera. Mas as dificuldades não a desanimam. A irmã conta que muitas mudanças já foram obtidas com a ajuda da sociedade, desde pintura até troca de piso. “Criança gosta de lugar agradável, bonito e merece isso.”

Município tem que se responsabilizar mais, diz pedagoga

A pedagoga Marta Matsubara, coordenadora do Programa Excelência em Educação da Promotoria da Vara da Infância e da Juventude, defende a municipalização dos centros de educação infantil filantrópicos, que hoje atendem a maioria das crianças com idades entre 0 e 5 anos. “Se há a identificação de uma demanda e há anamnese econômica, o poder público tem obrigação de atender”, afirma Marta Matsubara.

Na avaliação da pedagoga o que acontece hoje é que diante da ausência do Poder Público que não consegue atender a todos, pessoas da comunidade acabam se responsabilizando. Mas muitas vezes, não estão preparadas para a administração de uma creche. “Acreditam que apenas a parceria com a Prefeitura será suficiente e enfrentam dificuldades para complementar os recursos que faltam.”

O Poder Público, por sua vez, de acordo com a pedagoga, “limita-se a firmar estas parcerias, que nunca são suficientes. Como se assim tivesse cumprindo seu papel.” Marta Matusabara ressalta que é necessário um posicionamento sobre o futuro do cidadão. “Esta demanda não é local [de um bairro, de uma região]. É do Município. O Poder Público precisa entender que a criança que está na creche filantrópica também vai retornar para a sociedade. Resta saber de que forma quer que retorne: como flanelinha ou com professor, por exemplo.”

A secretária de Educação, Karen Sabec, afirma que até 2016, todos os municípios, de acordo com o Plano Nacional de Educação, terão que assumir integralmente a demanda da educação infantil. “Vamos fazer isso, mas o Município tem suas limitações e sem o apoio da iniciativa privada, ao menos no início, não temos como atender com qualidade”, diz a secretária Karen Sabec.

Ela ressalta que as metas colocadas pelo governo federal são boas, mas falta o cumprimento da parte dele. “7% do PIB nacional deveriam ser revertido para a educação e hoje não temos nem 0,1%”, diz a secretária. “O Município acaba tendo que dar conta de qualquer forma.”

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