A compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, não foi o único negócio malfadado em que a Petrobras se meteu enquanto Lula era presidente do Brasil. Houve também, embora o assunto tenha ficado esquecido, o acerto com a Bolívia em relação ao gás natural fornecido pelo vizinho. O assunto ressurgiu na semana passada, quando a transação, iniciada em fevereiro de 2007, foi enfim concluída. Soube-se então que a estatal brasileira precisará desembolsar, até o final deste mês, US$ 434 milhões pelos derivados nobres contidos no gás boliviano.
Há muitos aspectos espantosos nesse acordo, mas nada supera o fato de que a Petrobras não queria adquirir tais derivados e nunca os aproveitou. Somando-se uma parcela quitada em 2010 e descontando-se uma multa, a estatal terá pago US$ 557 milhões --70% do prejuízo com Pasadena-- por um produto literalmente supérfluo.
Ao firmar esse compromisso, Lula argumentou que era preciso ter generosidade com a Bolívia, governada desde 2006 por Evo Morales. Esperava-se ainda assim que, para além da "diplomacia companheira", houvesse algum ganho para o Brasil. Isso jamais ocorreu. Ganho haveria somente se fosse instalada no país uma unidade separadora de gás, capaz, como o nome sugere, de dissociar os componentes condensáveis que permitem a produção de GLP (gás de cozinha), por exemplo. O projeto, contudo, jamais saiu do papel.
No caso da refinaria nos EUA, a Petrobras ficou com um rombo de US$ 792 milhões, mas pode ao menos dizer que a usina existe e continua produzindo. Já o "gás rico" nunca será aproveitado. No ano passado, a própria Bolívia inaugurou uma separadora em seu território. Ou seja, a Petrobras agora paga apenas pelo gás que de fato consegue aproveitar.
Em nota, a Petrobras sustenta que o acordo trará um prejuízo de US$ 268 milhões neste terceiro trimestre, mas que, no final do ano, o balanço será positivo, US$ 128 milhões. O cálculo é enganoso; soma as receitas de outro contrato com a Bolívia, independente da negociação envolvendo "gases nobres".
Lula lembrará que sua "generosidade" apaziguou os ânimos do maior fornecedor de gás ao Brasil. Morales decerto gostou da negociação; o mesmo não se pode dizer dos milhares de acionistas da Petrobras, que veem o patrimônio da estatal ser dilapidado pelo voluntarismo político dos governantes.
Editorial, Folha de S. Paulo
Há muitos aspectos espantosos nesse acordo, mas nada supera o fato de que a Petrobras não queria adquirir tais derivados e nunca os aproveitou. Somando-se uma parcela quitada em 2010 e descontando-se uma multa, a estatal terá pago US$ 557 milhões --70% do prejuízo com Pasadena-- por um produto literalmente supérfluo.
Ao firmar esse compromisso, Lula argumentou que era preciso ter generosidade com a Bolívia, governada desde 2006 por Evo Morales. Esperava-se ainda assim que, para além da "diplomacia companheira", houvesse algum ganho para o Brasil. Isso jamais ocorreu. Ganho haveria somente se fosse instalada no país uma unidade separadora de gás, capaz, como o nome sugere, de dissociar os componentes condensáveis que permitem a produção de GLP (gás de cozinha), por exemplo. O projeto, contudo, jamais saiu do papel.
No caso da refinaria nos EUA, a Petrobras ficou com um rombo de US$ 792 milhões, mas pode ao menos dizer que a usina existe e continua produzindo. Já o "gás rico" nunca será aproveitado. No ano passado, a própria Bolívia inaugurou uma separadora em seu território. Ou seja, a Petrobras agora paga apenas pelo gás que de fato consegue aproveitar.
Em nota, a Petrobras sustenta que o acordo trará um prejuízo de US$ 268 milhões neste terceiro trimestre, mas que, no final do ano, o balanço será positivo, US$ 128 milhões. O cálculo é enganoso; soma as receitas de outro contrato com a Bolívia, independente da negociação envolvendo "gases nobres".
Lula lembrará que sua "generosidade" apaziguou os ânimos do maior fornecedor de gás ao Brasil. Morales decerto gostou da negociação; o mesmo não se pode dizer dos milhares de acionistas da Petrobras, que veem o patrimônio da estatal ser dilapidado pelo voluntarismo político dos governantes.
Editorial, Folha de S. Paulo
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