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André Vargas e o PT sem misericórdia

Deputado deixou o partido na semana passada; tratamento dado a ele foi diametralmente contrário ao prestígio dos mensaleiros condenados

A relação da cúpula do PT com o deputado André Vargas, desde que surgiram as denúncias da ligação do parlamentar com o doleiro Alberto Youssef, foram de idas e vindas. No começo, quando o próprio Vargas falou em renunciar a seu mandato parlamentar, as lideranças do partido, especialmente Vicentinho, líder do PT na Câmara, deixavam claro que se tratava de uma questão de foro íntimo, que seria uma decisão pessoal de Vargas. Mas, nos últimos dias, com o deputado decidindo manter o mandato para se defender no processo aberto contra ele no Conselho de Ética da Câmara, a pressão aumentou. O próprio Vicentino mudou o tom e passou a pressionar pela renúncia; o mesmo fez Rui Falcão, presidente da legenda, que ameaçou Vargas até com a possibilidade de expulsão do partido. Na sexta-feira, o deputado se antecipou e pediu sua desfiliação do PT, do qual era membro desde 1990.

À primeira vista, parece curioso que o partido tenha escolhido tratar Vargas com dureza. Afinal, é o mesmo PT que, em benefício dos mensaleiros condenados José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, rasgou o próprio estatuto interno, que prevê expulsão para os filiados que têm “condenação por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado”. Nenhum deles sofreu a sanção prevista (na época, Falcão disse que “quem aplica o estatuto somos nós. Nós interpretamos o estatuto”) – muito pelo contrário: todos os mensaleiros seguem gozando de grande prestígio no partido; Dirceu e Genoino são aclamados aos gritos de “guerreiro do povo brasileiro”, e as vaquinhas feitas para pagar as multas a que foram condenados pelo STF foram um grande sucesso. Tantos salamaleques para criminosos condenados, mas nenhuma misericórdia para com um deputado que mal começou a responder a um processo? Vargas não diz publicamente, mas não surpreenderia se ele estivesse se considerando traído ou abandonado pelo partido.

No entanto, é possível enxergar um bom grau de coerência nas atitudes da cúpula petista. Se o Brasil aprendeu algo nesses quase 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, é que a legenda não tem o menor escrúpulo para concretizar seu projeto de poder, afastando qualquer obstáculo para tal. O mensalão surgiu exatamente assim, para rechaçar a possibilidade de dificuldades no Legislativo para a aprovação daquilo que fosse de interesse do governo. Comprar partidos foi uma necessidade, pela lógica petista. Isso fez de Dirceu, Genoino, Cunha e Delúbio os heróis do partido, gente que se dispôs a fazer o trabalho sujo e a aguentar as consequências.

A mesma lógica justifica o tratamento dado a André Vargas: ele, que, ao contrário dos mensaleiros, nunca fez parte do “núcleo duro” petista, havia se tornado um peso. Em ano eleitoral, o escândalo que começou com uma carona num jatinho e chegou a supostas ramificações no Ministério da Saúde para garantir a “independência financeira” do deputado e de Youssef tinha todo o potencial para abalar as pretensões petistas, especialmente no Paraná, onde o PT tenta, com Gleisi Hoffmann, ocupar pela primeira vez o Palácio Iguaçu. Em nome do projeto de poder, o deputado se tornou peça sacrificável; daí a insistência pela renúncia, que tiraria Vargas dos holofotes. No fim, ele acabou quebrando, de uma maneira diferente: em vez de deixar o mandato, deixou o partido.

Sua atitude não deixou de ser um último favor ao PT, pois a legenda agora pode dizer que Vargas saiu voluntariamente e não é mais um problema do partido. A desfiliação, no entanto, não apaga o fato de que Vargas é produto de um ambiente que inclui, entre suas convicções básicas, a de que os fins justificam os meios. Convicção esta que deu ao deputado a confiança para se envolver em ligações suspeitas com Youssef, mas que ironicamente também causou sua desgraça dentro do PT.

Editorial, Gazeta do Povo

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