quinta-feira, março 10, 2011

Alvaro Dias fala do cenário político

"Acho que esse assunto [o apoio do PSDB à reeleição de Ducci] não deveria nem estar em discussão. Seria uma consequência lógica da orientação nacional [a candidatura de Fruet], tendo em vista o projeto nacional que se articula para 2014"

O senador Alvaro Dias vive dois mundos no mesmo partido. Dentro do PSDB nacional, ele ocupa lugar de destaque, como líder da oposição no Senado. Tarefa nada fácil, se considerada a vantagem numérica da base da presidente Dilma Rousseff (PT) frente aos opositores – no Senado, dos 83 parlamentares, 52 apoiam o governo. “Na hora do voto é desanimador”, admite o senador. Já no PSDB paranaense, Alvaro está isolado desde fevereiro do ano passado, após discordâncias por causa da escolha do candidato tucano ao go­­verno. Na época, o senador colocava seu nome para a disputa e insistia na realização de pesquisas para a definição do concorrente. Mas foi ignorado pela cú­­pula do partido no Paraná, que escolheu o hoje governador Beto Richa como candidato.

Esse isolamento tem mantido Alvaro distante das discussões do partido sobre a eleição para a prefeitura de Curitiba no ano que vem. Atualmente, a legenda está dividida entre os que defendem o apoio à reeleição de Luciano Ducci (PSB) e os que querem uma candidatura própria, com o tucano Gustavo Fruet co­­mo candidato. Apesar da distância em relação aos assuntos lo­­cais, Alvaro não deixa de opinar que os tucanos deveriam lançar um candidato próprio à prefeitura – o que, em tese, é um apoio a Fruet e uma alfinetada naqueles do PSDB que apoiam Ducci. De acordo com ele, essa seria a melhor opção para seguir a orientação do PSDB nacional. “O partido tem o dever de apresentar candidaturas próprias nas principais cidades do país, especialmente onde possua nome em condições de competitividade, como é o caso de Curitiba.”


Como a oposição tem trabalhado para ter espaço dentro do Congresso Nacional, frente à maioria da base aliada?

Nesses primeiros embates, nós tivemos a oportunidade de conferir e ter a noção exata do tamanho das nossas possibilidades. A redução numérica [dos parlamentares da oposição] é fatal. Se há um debate consistente, em razão dos senadores que integram a oposição, na hora do voto é desanimador. A diferença é acachapante. Nós sabemos que é próprio do início de toda gestão a solidariedade ampliada em razão da expectativa de poder, de ocupação de espaço, de retribuição [ao governo eleito]. E sabemos que turbulências virão no decorrer do mandato, que poderão alterar um pouco a correlação de forças. Mas, sem dúvida, é de se lamentar a ausência de uma representação popular mais equilibrada – o que seria muito bom para a democracia e para o país.


Qual avaliação o senhor faz da ideia do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), de criar um novo partido?

Essa ideia é uma manobra esperta e não muito recomendável aos bons costumes da política, pelo menos não é recomendável àqueles que desejam a boa prática política. Pois trata-se de uma manobra para driblar a lei da fidelidade partidária. Organiza-se um partido que, na verdade, de partido nada tem, mas que se constitui em sigla para permitir a mudança partidária sem perda de mandato. Parlamentares migram e, logo em seguida, ao que se anuncia, haverá uma fusão com o PSB. Portanto, é uma estratégia para evitar a perda de mandato.


E como o senhor encara essa possibilidade de fusão do PSB, que é da base governista, com esse partido que seria formado por dissidentes do DEM, que hoje faz parte do grupo de oposição?

O que há na conformação partidária brasileira é muita incoerência. Os partidos são siglas para o registro de candidaturas e isso provoca o descrédito popular. Isso vem, portanto, na contramão da valorização dos partidos políticos, que é essencial para a consolidação e aprimoramento do regime democrático do país. Não é um serviço que se presta à valorização partidária. Ao contrário, depõe e retira alguma esperança que se possa ter de que estamos caminhado para a valorização dos partidos políticos no país.

Existe a possibilidade de o senador Aécio Neves (MG) se retirar do PSDB e ir para esse novo partido?

Possibilidade zero.


Mas, durante o período eleitoral e logo depois do resultado das urnas, se falou muito na possibilidade do próprio Aécio criar uma nova legenda.

O PSDB é um partido que tem várias lideranças, que possuem prestígio nacional e não são apenas duas [Aécio Neves e José Serra]. Então, é natural que ocorra uma competição por ocupação de espaço. Isso não significa que alguém vá buscar facilidade mudando de partido, deixando um patrimônio que está construindo há vários anos para uma aventura numa sigla que surgiria de forma oportunista.


E sobre o senhor: existe possibilidade de ir para esse novo partido, considerando os conflitos internos que existem hoje no PSDB paranaense?

De minha parte, não há nenhum desejo de mudança partidária.


Como está a relação do senhor hoje com o PSDB estadual?

Sem comentários. Sobre o PSDB estadual, o silêncio é o melhor conselheiro. A melhor contribuição que posso dar é o silêncio.


Mesmo a distância, como o senhor vê essa polêmica envolvendo o PSDB de Curitiba? O partido segue em dúvida se irá apoiar a reeleição de Luciano Ducci (PSB) ou terá candidatura própria, com o ex-deputado Gustavo Fruet (PSDB).

Só posso falar em tese e seguindo a orientação nacional. O partido tem o dever de apresentar candidaturas próprias nas principais cidades do país, especialmente onde possua nome em condições de competitividade, como é o caso de Curitiba. Acho que esse assunto não deveria nem estar em discussão. Seria uma consequência lógica da orientação nacional [a candidatura de Fruet], tendo em vista o projeto nacional que se articula para 2014.


Recentemente, Gustavo Fruet disse em entrevistas que acordos regionais têm reduzido as candidaturas próprias do PSDB e que isso, aos poucos, tem enfraquecido o partido no Congresso Nacional. Como o senhor vê essa análise? O PSDB nacional está atento a essa situação e pretende fazer algo em relação a isso?

Eu não sei qual será a composição da Executiva nacional após maio, quando nós teremos uma convenção nacional do partido. Só a partir daí é que nós teremos uma noção da participação nacional nos projetos regionais. Agora, é evidente que nós enfraquecemos porque os projetos locais prevaleceram sobre o nacional. Certamente, teríamos tido um desempenho melhor nacionalmente se o projeto maior tivesse sido considerado como prioridade – e ele não foi em muitos estados.


Em relação à composição da executiva nacional do partido, qual a tendência do PSDB hoje: manter o deputado Sérgio Guerra (PE) na presidência da legenda?

Ele [Guerra] está trabalhando para isso e há aqueles que sugerem o nome do José Serra. Mas o Sérgio Guerra tem um bom apoio partidário. O que eu defendo é que eles se entendam e que evitem um confronto, porque não é hora disso. Nós temos de trabalhar a unidade partidária e colocar como meta o projeto [presidencial] de 2014.


Já de olho em 2014, o partido tem um candidato natural à Presidência na próxima eleição? Seria José Serra ou Aécio Neves?

Daqui a quatro anos, não sabemos quem estará vivo. E eu disse que não são apenas dois os líderes do PSDB. Tem outras lideranças que se projetam e tem as que ficarão no caminho. Previsão para quatro anos é só com o Chick Jeitoso [tarólogo paranaense].


E sobre o destino político do senhor, pensa em se candidatar à reeleição para o Senado?

Meu destino político é sempre decidido pela população. Às vezes, aquilo que eu recolho de orientação popular acaba sendo sepultado em razão dos interesses da cúpula partidária. Eu já tive uma candidatura evitada em 2006 e outra evitada em 2010 [ambas para o governo paranaense]. Mas eu não sei o que ocorrerá adiante. Só sei que tudo pode acontecer.


Caso o senhor sinta que não existe espaço para se candidatar à reeleição, poderá sair do partido?

Não devemos analisar nenhuma hi­­pótese tão remotamente. Te­­mos tempo. Existem etapas que podem ser superadas e nós temos de aguardar.


Entrevista publicada na Gazeta do Povo do Paraná em 07/03/2011
http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1103484&tit=O-partido-tem-o-dever-de-apresentar-candidaturas

Nenhum comentário:

Laranjeiras do Sul

Laranjeiras do Sul
Laranjeiras do Sul