sexta-feira, março 18, 2011

O País do retrabalho

Um novo dia de muitas possibilidades. Desfrutá-lo, produzir, conquistar sonhos, criar projetos. É um novo dia que Deus fez para nós nos alegrarmos.
Mas às vezes o tempo desse dia é usurpado por aqueles que contratamos com a crença que, de alguma forma iriam tornar nossa vida melhor.
Pode ser um novo plano de telefonia, com vantagens muito consistentes em relação à minha velha operadora, e a promessa de uma portabilidade tranquila. Ou talvez a cozinha ou closet dos sonhos, com uma empresa considerada idônea.
O fato é que, conhecendo muitos amigos que tiveram aqui ou ali seus problemas com a empresa de telefonia, ou com a entrega e montagem do planejado lá estamos nós, acrescidos de tantos cuidados antes de fechar uma compra. Gastamos um tempo adicional para nos certificarmos que tudo irá acontecer conforme o prometido. Analisamos o vendedor e a empresa para saber se merecem nosso suado dinheirinho.
Deixamos uma promessa de pagamento na loja. Hoje, mais com cartão do que com cheques. E como honrados cidadãos cumprimos religiosamente as datas estipuladas. E saímos com um papel na mão. Registrado nele o nosso novo plano de telefonia, a data e horário de nossa portabilidade. Ou ainda, as especificações e os desenhos daquele closet maravilhoso, com incríveis gavetas deslizantes.
Mas a vida real nos chama. Depois de uma hora de caminhada, que confesso que não é tão habitual quanto deveria, cheguei exatamente a tempo do meu primeiro compromisso do dia. E hoje não era às 7h, e sim às 9h. E não era na escola, mas na minha casa!
Pela quarta vez eu recebia uma nova pessoa para vistoriar o móvel planejado que não funcionou como o previsto. Problema simples: as gavetas não fecham. Depois de três desmontagens e montagens do móvel, com uma das franquias mais conhecidas do mercado. Resultado do meu compromisso: será feita a desmontagem e montagem do referido móvel pela quarta vez. Ainda sem data definida.
A vida continua, e mantive meus olhos no celular. Era o dia e o horário marcado para a portabilidade. Eu estava há doze anos com a mesma operadora, e após estudar vários planos com meu marido, decidimos fazer a portabilidade dos nossos números. Para me assegurar que tudo sairia certo, aguardei durante quatro horas na loja, até que o número provisório estivesse habilitado, e todos os papéis que me dariam a segurança do processo finalizado.
Meu marido chegou em casa e afirmou aliviado: “minha portabilidade deu certo!”. Confesso que tive um misto de alegria e medo. Alegria por ele. Medo porque coisas nunca são simples quando existe uma empresa de telefonia ou um fabricante de móveis planejados na história. E um raio não caiu duas vezes no mesmo lugar.
Minha portabilidade não aconteceu. Durante quase três horas fui atendida e transferida para umas sete pessoas. Anotei oito números de protocolo. Após explicar toda a história era informada que ali não era o setor responsável, e eu seria transferida para outra pessoa. Finalmente, uma atenciosa jovem me assegurou que no final vai dar tudo certo. Que isso acontece. Fiquei sabendo que a vendedora não tinha implantado o pacote de internet em nenhuma das duas linhas. E fui orientada a esperar mais 96 horas. Que agora iria dar tudo certo. Eu acreditei nela.
Acreditei nelas, assim como nas primeiras pessoas que me venderam o serviço. Pensei nos seus rostos simpáticos, em como me convenceram que eu estava em uma empresa com credibilidade, e que tinham estrutura para cumprir o combinado. Pensei em tantos outros clientes que elas continuavam atendendo hoje, vendendo a certeza do que suas empresas não estão preparadas para cumprir.
Pensei na minha manhã perdida. No meu almoço que ficou atrasado. E nas horas de trabalho que essas simpáticas pessoas que me atenderam hoje, empenharam em fazer o que deveria ter sido feito por alguém que não fez. Ou não fez direito. Pensei que de alguma forma, eu pagarei por essas horas do retrabalho dessas pessoas. Seja na minha fatura telefônica, seja na composição do custo do próximo móvel que vou encomendar.
E fiquei triste. Cheguei à conclusão que estamos vivendo num país de re-trabalho. Nossas empresas e profissionais estão despreparados para cumprir o que se comprometem. E nos roubam o tempo. Não podem reparar o tempo que nos tiram. Colocam seus erros numa planilha de custos e os repassam a nós. E acham natural que as coisas sejam assim. Sempre foram. E com o aumento da demanda serão ainda mais.
Mas amanhã será um novo dia. E sonho ensinar aos meus filhos, meus alunos e colaboradores a serem competentes. Concluírem o que iniciarem. Terminarem os projetos iniciados. E não gastarem suas vidas com retrabalho.

Raquel Adriano Momm Maciel de Camargo é Diretora do Centro Educacional Evangélico e Conselheira do SINEPE-PR.

Um comentário:

Anônimo disse...

parabéns pelo artigo

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