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Políticos, muito salário para pouco trabalho

Recebo convite para fazer parte de um grupo que reivindica a redução dos salários dos políticos, logo em seguida leio no Jornal do Brasil a notícia de que 20 novos partidos pedem registro no Tribunal Superior Eleitoral.

Passei a pesquisar a quantidade de partidos políticos, o salário médio de um parlamentar e comparar com o tamanho da economia de alguns países, tentando achar uma relação que ligue esses três fatores ao desenvolvimento sócio-econômico dos diversos lugares, mas não foi possível determinar com clareza essa interdependência.

Na França, que conta com 19 partidos políticos, um parlamentar ganha o equivalente a 16 mil reais mensais; a Dinamarca conta com 6 partidos e cada parlamentar recebe 13 mil reais; o Japão tem apenas 5 partidos e cada parlamentar tem salário de 28 mil reais; o deputado sueco tem salário de 14 mil reais e o país conta com 14 partidos; o deputado americano tem vencimentos na ordem de 23 mil reais e o país tem 76 partidos, com a diferença de que muitos desses partidos são estaduais, não têm, portanto, atuação nacional. Os partidos Democrata e Republicano, aqueles dois de que o mundo ouve falar, são os dois com representatividade em todos os estados da confederação; a Inglaterra, o país sem constituição federal, tem apenas três partidos políticos e, embora seja uma das maiores economias mundiais, cada parlamentar recebe 14 mil reais mensais. O Brasil conta com 27 partidos oficializados e tem salário médio de R$ 26.723,00.

Será que somos tão mais ricos que os mais ricos? Nossos parlamentares trabalham mais e melhor que os parlamentares dos campeões econômicos mundiais para justificarem ganhos tão mais altos? Óbvio que ambas as respostas são “não”. Por outro lado, esses senhores que dizem nos representar têm a liberdade de determinarem seus ganhos (não só os salários, mas todos os penduricalhos extras adicionados ao salário básico, como verbas de representação, auxílio moradia, transporte, décimo terceiro, décimo quarto e décimo quinto salários, “auxílio paletó”, previdência parlamentar e sabe-se lá quantas outras mordomias), suas punições, seus muitos direitos, suas atribuições legais...

Se todos fôssemos iguais perante a lei, como determina a Constituição Federal, cada trabalhador teria o mesmo direito de determinar quanto a empresa em que trabalha deveria pagar-lhe ao final do mês. Ou, o que seria melhor, nossos parlamentares deveriam seguir o regime determinado pela Consolidação das Leis do Trabalho, seus descontos fiscais e obrigações de carga horária.

Neste momento, em plena crise por que passa a economia americana, em busca de uma solução para a economia do país e, consequentemente, a salvação da economia mundial, os deputados e senadores americanos fazem serão, sábado, domingo e quantos dias forem necessários, em busca de uma proposta positiva para o país. Já os nossos representantes legais (não significa isso que sejam representantes de fato), ausentam-se todas as segundas-feiras, não comparecem ao Congresso nas sextas-feiras, presenteiam-se com férias e recessos, que são férias com outro batismo, duas vezes ao ano, faltam quando querem porque sabem que não terão as faltas descontadas nos vencimentos... Enfim, agem como donos da empresa e não empregados de todo e cada cidadão da nação.

Já ouvi muitas vezes e, se bobear, também já disse isso: o dia em que eu estiver na lona, sem dinheiro e sem perspectiva, crio uma igreja, um sindicato ou um partido político. Essas três instituições contam com as benesses da lei, a complacência da justiça e os beneplácitos que o Poder Executivo dá àqueles que podem ajudá-lo em questões espinhosas que por ventura aparecerem. Tirando as igrejas, pelo menos as sérias e seculares como a Católica, a Batista, a Presbiteriana, a Adventista, a Seicho-No-Ie e mais algumas poucas, as outras duas agremiações – Partidos e sindicatos, que nadam mais são do que parte do braço arrecadatório dos partidos e seus figurões – tornaram-se balcões de negócios escusos e inconfessáveis. Seus componentes, via de regra, fazem mais dinheiro com suas atividades paralelas e “para-legais” – para não dizer criminosas – do que com o próprio salário, salvo aqueles poucos honestos ou sem poder de regatear, não merecem, portanto, mais do que uma ajuda de custo para dedicarem-se à vida político-partidária ou sindical.

O país paga caro para se deixar lesar.

Marcos Pontes

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