por Fernando Rodrigues
Já foram debelados os boatos sobre o fim do Bolsa Família. Só que o episódio continua obscuro. Serve apenas como um striptease do governo federal. A versão oficial do caso flerta com o surrealismo. Alguém do terceiro escalão da Caixa Econômica Federal teria decidido antecipar de uma vez, dia 17 último, todos os pagamentos de maio do Bolsa Família. Coisa na casa de R$ 2 bilhões. É muito dinheiro em qualquer lugar do mundo.
A decisão não teria sido informada ao presidente da Caixa, o petista Jorge Hereda. Nota-se aí um problema sério de governança. O banco estatal resolve antecipar a liberação de R$ 2 bilhões e o chefe da instituição não sabe de nada. Há três hipóteses a serem investigadas, todas demolidoras para o mito do bom gerenciamento da presidente Dilma Rousseff: 1) Hereda é um incompetente, 2) Hereda mente ao dizer estar por fora do ocorrido e 3) Hereda é incompetente e mente.
O fato é que, no dia seguinte à liberação antecipada do Bolsa Família, houve um corre-corre de milhares de pessoas tentando sacar os seus benefícios. Quem receberia só no final do mês percebeu que poderia ter acesso mais cedo ao dinheiro.
Ontem, a Caixa exerceu seu poder de adivinhação. Em carta a congressistas decretou não haver "qualquer relação" entre a antecipação dos pagamentos do Bolsa Família e o subsequente corre-corre. O banco estatal não tem base científica para fazer tal afirmação com 100% de segurança.
No ano passado, a Caixa torrou R$ 676,5 milhões em propaganda. É a terceira empresa do Brasil que mais gasta em anúncios (sem contar o que despeja em times de futebol). Só perde para Casas Bahia e Unilever. Não ocorreu a ninguém na CEF gastar alguns reais para avisar so-bre as mudanças no pagamento do Bolsa Família? Parece que não. Afinal, quando algo dá errado é mais fácil negar o equívoco. Se não funcionar, culpa-se a oposição.
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