FOTO ILUSTRATIVA RESERVA ARAUPEL - ARQUIVO OLHO ABERTO PARANA
O LATIFÚNDIO CHAMADO ARAUPEL X DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A Antiga Giacomet-Marodin, hoje Araupel S.A. possuía entre os Municípios de Rio Bonito do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Espigão Alto do Iguaçu, Quedas do Iguaçu e Três Barras do Paraná, mais de 83 mil hectares de terras, isso pelos documentos apresentados, mas sempre houve dúvidas sobre o tamanho deste imóvel, sendo extraoficialmente afirmado que a área superava os 110 mil hectares. Essas terras foram cedidas em “cessão gratuita” no período do Governo Imperial ainda no século XIX (09/11/1889), como privilégio para construção da estrada de ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Portanto essas terras nunca foram legalmente adquiridas pelas famílias formadoras desta empresa e deste latifúndio.
Atualmente a empresa Araupel S.A. tem em ativos totais mais de 564 milhões de reais, teve um patrimônio líquido apurado em 2013 de quase 375 milhões de reais, obteve no ano passado faturamentos (lucro bruto) de mais de 55 milhões de reais, obtendo um lucro líquido de quase de 31 milhões de reais, ou seja, 8% (oito por cento) sobre o patrimônio. A Araupel é a segunda maior empresa no ramo de serrarias do Brasil. Esse resultado representou um aumento de seu lucro em comparação com 2012 em mais de 72% (setenta e dois porcento), e a cada ano aumenta mais a concentração de poder e renda da família proprietária desta empresa.
A partir de 1996, mais de 51 mil hectares da empresa foram adquiridos pelo Governo Federal, depois da ocupação pacífica e pressão de milhares de famílias de trabalhadores rurais sem terras, além de muito apoio popular. Estas áreas foram destinadas à implantação de 04 assentamentos (Ireno Alves dos Santos, Marcos Freire, Celso Furtado e Dez de maio), onde foram assentadas mais de 2.700 (duas mil e setecentas) famílias.
Com o assentamento destas famílias, foram constituídas, no lugar de uma única empresa, mais de 2.700 (duas mil e setecentas) empresas familiares, gerando mais de 5.500 (cinco mil e quinhentos) empregos diretos e milhares de indiretos. Podemos afirmar que hoje nestes assentamentos vivem e produzem, gerando emprego e renda, mais de 11.000 (onze mil) pessoas, os seja, mais do que a população de muitos municípios brasileiros.
Além da garantia de sobrevivências destas famílias, os assentamentos impulsionaram o desenvolvimento dos municípios onde estão localizados, pois a necessidade de consumo das famílias fez muitas empresas se instalarem ou ampliarem suas estruturas nos municípios, como o caso de Rio Bonito do Iguaçu que cresceu e se desenvolveu muito após os assentamentos. Além do desenvolvimento do comércio de venda de produtos, muitas empresas de transformação passaram a se instalarem ou atuarem nos município para absorver a produção dos assentamentos, ou seja, também houve geração de muitos empregos indiretos, além é claro, da contribuição na produção de alimentos de qualidade destinados ao consumo das famílias brasileiras.
Hoje as mais de 2.700 famílias assentadas nestes quatro assentamentos, produzem aproximadamente 32 milhões de litros de leite por ano; contam com um
rebanho bovino de mais de 47.000 cabeças; produzem cerca de 376.000 sacas de soja; 474.000 sacas de milho; 55.000 sacas de feijão, 1.500 sacas de arroz, 30.000 sacas de trigo. Produzem ainda frangos, suínos, caprinos, equinos, ovos, batata, entre outros produtos hortifrutigranjeiros para o autoconsumo e comercialização, produzem ainda casulo do bicho-da sena, tabaco, madeira, etc. De toda essa produção, apenas o que é comercializado pelas famílias geram um volume de receita de mais de R$ 70.000.000,00 (setenta milhões de reais) por ano, os quais giram na região ( e não vão para fora como é o caso do lucro da Araupel), aquecendo os mais variados segmentos do comércio local e regional.
O que me deixou revoltado nestes últimos dias foram às posições e declarações do Prefeito municipal de Quedas do Iguaçu Edson Jucemar Prado e do Senador Álvaro Dias, quando se referem à empresa Araupel e ao Acampamento em formação no Assentamento Ireno Alves dos Santos, no Município de Rio Bonito do Iguaçu.
Primeiramente quero lembrar, como bem afirmam o Prefeito e o Senador, a Araupel é uma Empresa especializada em beneficiar madeira para a exportação. A empresa não objetiva sequer o mercado interno. Produz parte do que beneficia, e o que produz é somente madeira como pinus e eucalipto.
Segundo, a Araupel não é responsável por assentamento de nenhuma família. Em 1996 e depois em 2003, foram ocupadas áreas da Araupel por agricultores sem terras, e na sequência estas terras foram adquiridas pelo Governo Federal por intermédio do INCRA e destinadas à reforma agrária, onde foram constituídos quatro assentamentos, assentando mais de 2700 famílias. Estas terras foram adquiridas e pagas, juntamente com a estrutura que sobre elas existiam à empresa Araupel. Portanto, tudo que foi conquistado pelos trabalhadores ali assentados, são méritos deles e dos demais que engrossaram estes acampamentos.
Terceiro, desta área, parte não foi paga até o momento pois encontra-se sub-júdice, devido o INCRA ter constatado a nulidade do título de propriedade, e a empresa não comprovou o contrário, e segundo a Superintendência do INCRA do Paraná, esse pedido de comprovação já vem rolando por mais de 10 anos. Pode ainda, ser verificado junto ao INCRA, que até o momento estas terras são consideradas como da União ou devolutas, tudo está em processo na justiça onde o Governo Federal pode retomar todo o imóvel de posse hoje da Araupel, esse processo pode ser consultado no autos sob nº 2004.70.05.005184-9.
Quarto, a ocupação da área da Araupel em momento algum coloca em risco a população de um município ou região. O grande resultado de uma ocupação, seguida de aquisição por parte do INCRA e distribuição das terras entre as famílias acampadas (filhos de assentados e pequenos produtores), é o desenvolvimento dos municípios abrangidos pelas terras da empresa. E se isso é um risco, então não sei que tipos de políticos são estes, que vendam os olhos perante a possibilidade de desenvolvimento, e defende a concentração de terra e renda, que é um dos motivos do atraso ao desenvolvimento de nossa região. A pretendida ocupação, assim como as que aconteceram no passado, objetiva a terra, e não as suas instalações administrativas e industriais, ou as torras de madeiras como afirma o Senador. Esse objetivo, de
distribuições das terras, que não considero como produtivas, visto que, produz madeira para exportação e não alimentos para a população é o que torna justa a reinvindicação dos trabalhadores rurais sem terras.
Quinto, se a distribuição de terras que estão concentradas sob o domínio de uma empresa não sobre a posse (tendo em vista a legitimidade da mesma está sendo questionada) não tem conotação social, gostaria que o Prefeito e o Senador expusesse o que tem; Se a distribuição de renda, resultado da exploração da terra deixar de ficar na posse de uma família, e for distribuída futuramente entre 1500 famílias (que poderiam ser assentadas nesta) não tem cunho social, Prefeito e Senador o que é ter para vocês; Se a viabilidade de 6.000 pessoas no campo, no lugar da concentração de terras de um único grupo (família) não tem cunho social, o que é ter para o Prefeito e Senador; Se a melhoria do IDHM de um município, ou de uma região, através da ampliação de atividade fontes de renda para as famílias rurais e ampliação das famílias em atividades produtivas, não tem cunho social, o que que teria; evitar o êxodo rural, mantendo a população no campo evitando a migração para as periferias das cidades não tem cunho social, o que teria para o Prefeito e o Senador.
Sexto, chamar de criminoso, de “movimentação criminosa” os trabalhadores rurais que querem o direito a morar, a sobreviver, a sustentar sua família, a produzir alimentos vivendo na terra e dela, é inadmissível. Quando chamado de “criminosos” os sem terras acampadas, chama a todos os assentados e pequenos produtores, então os Senhores Prefeito e Senador estão considerando criminosos os produtores dos alimentos que eles próprios consomem.
O Prefeito de Quedas do Iguaçu, bem sabe, e a população deve saber ou ser informada do desenvolvimento que a instalação do assentamento Celso Furtado está trazendo para o Município, pois aumentou em mais de 4000 o número de habitantes só no campo, aquecendo o comércio local, e trouxe vida digna a muitas famílias do município beneficiadas no assentamento. O prefeito bem sabe e a população deve tomar esta consciência, que a viabilidade da empresa não está nestas terras ou em suas produções, e sim no beneficiamento de madeiras para exportação. Porém, essa empresa foi uma das fortes doadoras de recursos para campanha eleitoral do Prefeito, então é evidente que defenderá seus interesses. Um Prefeito, quando assume a defesa de uma empresa, concentradora de renda e tenta jogar a população contra o desenvolvimento, com a alegação de que se forem destinadas as terras de domínio (pois a posse está questionada) de uma empresa para a reforma agrária, o município entrará em colapso, acredito não saber a diferença entre o atraso e o desenvolvimento. O Prefeito sabe também, e a população deve saber, que nenhuma empresa, principalmente do porte da Araupel, fica refém em sua viabilidade e continuidade de suas atividades de uma única alternativa de fontes de matéria prima (embora seja evidente que a produção própria é apenas parte do que é processado na empresa), esse discurso a Empresa já utilizou nas ocupações anteriores. Se há alguém com interesse em manipular os fatos e a verdade, jogando parte da população de trabalhadores de um município ou região contra outra, com certeza não é da parte de quem está organizando os trabalhadores rurais sem terras.
O Senador Alvaro Dias, antes de qualquer pronunciamento contra os trabalhadores rurais, deveria visitar algumas pequenas propriedades rurais, visitar assentamentos da reforma agrária para conhecer a realidade das famílias que ali vivem. Tenho certeza, que se o Senador tiver um mínimo de dignidade, um mínimo de bom senso, um mínimo de humanidade, sairia daí defendendo a reforma agrária no seu mais amplo sentido. Quem conhece a realidade do campo brasileiro e defende a concentração de terras e renda, é somente quem tem interesse direto nesta questão. E quando uma questão pessoal interfere no papel devido de um agente político, este não merece e não deve ocupar tal lugar.
Portanto, é mais que justa a ação dos trabalhadores rurais sem terras, acampados às margens das terras de domínio da Empresa Araupel. A empresa está usando estas terras públicas (segundo Incra) a mais de 50 anos, e se for mantida a posse destas terras como da União, a mesma deve destinar estas terras devolutas aos trabalhadores rurais efetivando a reforma agrária. Defender a reforma agrária neste caso, é defender a viabilidade de pelo menos 1.500 famílias no campo, é garantir vida digna a estas famílias, é defender o desenvolvimentos dos municípios diretamente atingidos, é melhor o IDHM dos municípios e da região, é promover a justiça social.
Nova Laranjeiras, 02 de junho de 2014
Samir Ribeiro
Graduando do Curso de Ciências Econômicas
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
Campus Laranjeiras do Sul
Assinar:
Postar comentários (Atom)
É DESTAQUE !!
OPERAÇÃO CONJUNTA DA POLÍCIA CIVIL E POLÍCIA PENAL RESULTA NA PRISÃO DE DOIS MASCULINOS EM CUMPRIMENTO A DOIS MANDADOS DE PRISÃO.
OPERAÇÃO CONJUNTA DA POLÍCIA CIVIL E POLÍCIA PENAL RESULTA NA PRISÃO DE DOIS MASCULINOS EM CUMPRIMENTO A DOIS MANDADOS DE PRISÃO. No fim...

LARANJEIRAS DO SUL NO COMBATE A DENGUE
-
LARANJEIRENSE MORRE EM GRAVE ACIDENTE NA BR 277 Ex-gerente da Sanepar regional de Guarapuava, Evandro Marcos Dalmolin, foi a vítima f...
-
Queda de helicóptero na serra da união em Nova Laranjeiras Neste exato momento , equipes do Corpo de Bombeiros estão em deslocamento , in...
-
NOITE SANGRENTA EM LARANJEIRAS DO SUL, HOMiCÍDIO NO BAIRRO PRESIDENTE VARGAS LOCAL DE CRIME VIA PÚBLICA - BAIRRO PRESIDENTE VARGAS AO LAD...
2 comentários:
Sem contar que esqueci de mencionar que isso gerará pelo menos 3 mil demissões diretas, e o direito do trabalhador, vale menos que o direito do MST?
SABE DE NADA INOCENTE. Acho que teve preguiça de ler a noticia toda né. Não viu os dados em números de empregos que os assentamentos ai já existentes geram nos municípios, a diversidade de produção e o desenvolvimento que eles alavancaram nestes municípios. Como diz um ditado: O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER.
Postar um comentário