
Além das inúmeras críticas dos pais, professores e estudantes ao modelo de ensino à distância implantado pela Secretaria de Estado de Educação (SEED) para o período da pandemia de coronavírus, o governo também vai enfrentar a fiscalização dos ministérios públicos. A APP-Sindicato, que representa os professores e funcionários da rede estadual de ensino, formaliza nesta quarta (8) uma denúncia no Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR) contra a proposta. Segundo o presidente da APP-Sindicato, Hermes Silva Leão, a proposta do governo não prevê uma organização de trabalho, nem turnos e ainda obriga os professores a usarem equipamentos e internet próprios. "Os professores estão enfrentando um conjunto de situações não previstas pelo governo. No sábado e domingo, diretores ficam recebendo pedidos e documentos e orientandos da SEED em horários fora do turno, alunos com dúvidas o tempo todo. Não temos regulamentação sobre turnos e sobre equipamentos. Exigir investimentos em equipamentos de uma categoria com média salarial mais baixa é inaceitável. Percebemos da SEED não se preocupa com o principal obetivo que é cuidar da vida das pessoas", diz Leão. A APP também já apresentou denúncia ao Ministério Público do Paraná (MPPR) por considerar que o ensino à distância do governo do Paraná não garante a educação universal, ou seja, deixará vários estudantes de fora.
Para o presidente da APP-Sindicato, o problema principal é que decisões têm sido tomadas por decreto, sem ouvir os profissionais e especialistas da educação. “Essa educação a distância que o secretário Renato Feder está impondo não foi debatida com a categoria. Não foi levada em consideração as realidades dos nossos estudantes e das nossas escolas. Portanto, é importante suspender o calendário e pensarmos juntos a melhor forma, para a categoria e para os estudantes, de fazer a reposição das aulas após o período de isolamento social”, afirma. "A educação precisa ser universal entre os estudantes. Essa proposta de usar a internet não alcança uma parcela importante de alunos e de professores que não contam com acesso à internet. Tem escolas no campo em que 80% dos alunos não têm acesso à internet. E pela televisão, quem tem mais de um filho não tem como acompanhar tudo. O próprio governo indica que esses alunos sem acesso à internet precisarão ir a cada 15 dias na escola para receber material impresso e só depois apresentar os trabalhos e isso já é uma desigualdade", diz o presidente da APP.
A secretária Educacional da APP-Sindicato, professora Taís Mendes, explica que o sindicato se posicionou contra a proposta de EaD e defende a reposição das aulas com a interação presencial entre estudantes e professores, após o fim do isolamento social. “A imensa maioria de nossos professores não teve formação em educação a distância. Nossas escolas não estão organizadas e preparadas para realizar um planejamento em EaD. Como as nossas escolas vão orientar nossos estudantes? A imensa maioria dos estudantes não têm recursos necessários para realizar as atividades a distância”, diz ela.
De acordo com Taís Mendes, a deliberação do Conselho Estadual de Educação do Paraná sobre o EaD prevê que a implantação dessa modalidade de ensino durante a pandemia precisa da autorização dos diretores de cada escola. “Neste sentido, nós orientamos que a comunidade escolar também se manifeste e recuse essa proposta”, disse.
Dois professores ouvidos pela reportagem do Bem Paraná disseram que está muito complicado dar aula pelo aplicativo. "Professores e alunos estão perdidos. Nós temos que usar aulas de outros professores e as turmas não estão todas no mesmo conteúdo. Também temos que perder tempo para entender o aplicativo. Eu tenho perdido mais tempo para preparar e dar as aulas e com um resultado infinitamente inferior", afirma o professor de Geografia. Outro docente conta que ele não tem um aparelho celular que que suporte o aplicativo, que trava constantemente: "Tive que emprestar um aparelho da minha filha e nesta semana acho que não houve avanço no aprendizado. Alunos que acompanham pela televisão reclamaram que por terem irmãos cada um vai acompanhar um dia de aula. Está muito confuso".
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação e Esporte (SEED) foi consultada pela reportagem do Bem Paraná, mas até as 17h30 não respondeu. Assim que enviar as respostas, a matéria será atualizada.
Aplicativo também gera denúncia e rejeição dos usuários
No primeiro dia de funcionamento do ensino a distância, na segunda (6), estudantes foram expostos a mensagens de pornografia e chamamento para suicídio coletivo no aplicativo Aula Paraná. A situação, registrada no aplicativo Aula Paraná, deixou pais e mães indignados e foi denunciada no Ministério Público de Londrina
A Secretaria de Educação informou à reportagem do Bem Paraná que foi realizada uma atualização no aplicativo Aula Paraná de forma a possibilitar que o estudante somente utilize o chat da turma à qual ele está vinculado, durante o horário das aulas e com a presença do professor moderador. O aplicativo ainda está em fase de finalização e a Seed vai divulgar quando a ferramenta começar a ser usada oficialmente. Sobre o caso do aluno de Londrina, foram tomadas todas as providências cabíveis em relação ao episódio. Representantes do Núcleo Regional de Educação e da escola na qual ele está matriculado se reuniram com a família, sendo o encontro registrado em ata. A Secretaria Municipal de Saúde de Londrina também foi acionada, para verificar a possibilidade de o jovem ser encaminhado para tratamento em Centro de Atenção Psicossocial
Disponível para sistemas Android e IOS, o aplicativo registra altas taxas de reprovação, na avaliação dos estudantes que baixaram o programa. Na loja Play Store (Android), a nota do Aula Paraná é 1,6. Na Apple Store (IOS) a média é ainda mais baixa, 1,5. Os dados foram coletados na tarde desta terça (7).
Nos comentários registrados nas plataformas, os usuários justificam as notas. Alguns criticam que não conseguem fazer o login e que acham o aplicativo confuso. Outros relatam que a proposta do governo exclui muitos estudantes que não têm os recursos tecnológicos para ensino a distância. Apesar do aplicativo ser gratuito, o estudante precisa ter internet móvel ou banda larga para baixar e fazer a instalação, mas, segundo a APP, o governo não explicou como os estudantes que não têm internet vão fazer isso. Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), 33% dos lares brasileiros não têm acesso a internet.
Para a usuária que se identificou como Ana Clara Grama, o projeto do governo “não vai dar certo!”. “Cara, não tem como isso dar certo, tem muita gente que não tem acesso à internet ou um bom aparelho para poder baixar o app, é triste ver que estão escolhendo quem vai estudar e quem não durante esta crise, pq o governo tem total ciência de que nem todos os paranaenses têm as necessidades básicas de tecnologia para ter acesso a esse tipo de estudo”, escreveu. Para LczBlack Official, além das falhas no aplicativo, a preocupação também é com o aprendizado. “Um aplicativo completamente inútil onde ngm vai aprender absolutamente nada, se o Aluno mal aprendia na escola imagina fora dela, isso é uma perda de tempo, sem contar que tem falhas nesse aplicativo, erros que simplesmente poderiam ser corrigidos, porém até isso os desenvolvedores tem preguiça de corrigir. Lamentável”, escreveu.