Desde 2018 o número de suicídios registrados no Paraná persiste em patamar recorde, com mais de 900 registros por ano. Apenas em 2020, último ano com dados disponíveis, um paranaense deu cabo à própria vida a cada 10 horas, em média, uma informação alarmante e que também serve de alerta: é que no nono mês do ano acontece, nacionalmente, a campanha Setembro Amarelo, organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) com o objetivo de prevenir e reduzir esses números.
Dados do Ministério da Saúde, extraídos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), revelam que desde 1979 (quando teve início a série histórica) até 2017 o Paraná jamais havia registrado, ao longo de um único ano, mais de 800 óbitos decorrentes de lesões autoprovocadas intencionalmente (termo utilizado para se referir ao suicídio pela na Classificação Internacional de Doenças - CID).
Em 2018, porém, essa barreira foi rompida pela primeira vez. Naquele ano, 915 pessoas se suicidaram no estado. No ano seguinte, o número subiu para 944 mortes. Já em 2020, os dados preliminares do SIM, divulgados recentemente, apontam para 900 suicídios no Paraná, o que dá a média de cinco suicídios a cada dois dias ou ainda um suicídio a cada 10 horas, em média.
Dessa forma, verifica-se que, embora o total de suicídios em 2020 (900) seja 4,7% menor que o verificado em 2019 (944), o número óbitos decorrentes de lesões autoprovocadas intencionalmente em 2020 é o terceiro maior de toda a série histórica, o que significa que o suicídio entre paranaenses, pelo terceiro ano consecutivo, permanece em patamar recorde.
A situação, no entanto, não é exclusividade do Paraná. Prova disso é que o Brasil registrou, entre 2002 e 2019, aumentos consecutivos nos casos de suicídio, que saltaram de 7.726 para 13.520 (um aumento de 75%, superior à alta de 63% verificada no Paraná nesse mesmo período).
No ano passado, no entanto, os dados preliminares apontam para uma queda nessas ocorrências: foram 12.751 óbitos decorrentes de lesões autoprovocadas intencionalmente em todo o país, 5,7% a menos que no ano anterior.
Os motivos para se comemorar, contudo, não são muitos. Além dos dados serem preliminares (o que significa que os números ainda podem vir a subir), em 2020, mesmo com um menor número de registros até aqui, um brasileiro deu cabo à própria vida a cada 41 minutos.
Campanha aponta fatores de risco e sinais de alerta
Neste ano, a campanha do Setembro Amarelo (mês de prevenção ao suicídio) terá como mote “Agir salva vidas!”. E para a ação ser possível, é importante que as pessoas fiquem atentas aos fatores de risco e sinais de alerta.
Conforme a ABP e o CFM, um primeiro fator de risco são os transtornos mentais. Isso porque praticamente todas as pessoas que cometem suicídio apresentam pelo menos um transtorno psiquiátrico, como depressão, transtorno bipolar, problemas com drogas líticas ou ilícitas, etc.
Outra questão importante é o histórico pessoal. Isso porque a tentativa prévia é o principal fator de risco para o suicídio e indivíduos que já tentaram dar cabo à própria vida têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente.
Além disso, é importante que as pessoas tenham atenção às ideações suicidas — comentários que demonstrem desespero e desamparo e expressões como “eu desejaria não ter nascido” ou “eu preferia estar morto” são sinais de alerta. Há também fatores estressores crônicos e recentes (como separação conjugal, migração, perda de uma pessoa próxima...).
No site do Setembro Amarelo (https://www.setembroamarelo.com/) é possível encontrar ainda mais materiais de apoio para se aprofundar no assunto.
Rede de apoio em Curitiba e no Paraná
Um dos centros de apoio emocional mais atuantes no Brasil é o Centro de Valorização da Vida (CVV). Nele existe o serviço de escuta 24 horas por dia. Basta ligar para 188 e solicitar o atendimento. O serviço também está disponível via internet pelo www.cvv.org.br e-mail, chat e Skype.
Além disso, em Curitiba há diversas opções gratuitas ou a preços módicos para aqueles que precisam de acompanhamento psicológico, mas não têm condição de bancar uma terapia com psicólogo particular.
O Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, oferece atendimentos e tratamentos em todos os serviços da Rede de Atenção Psicossocial na cidade. Além disso, seis instituições de ensino superior (PUCPR, UFPR, Uniandrade, UniBrasil, UP e UTP) oferecem atendimento psicológico ao público, com atendimento gratuito ou a preços módicos para pessoas que comprovem baixa renda.
RAIO X
Suicídios no Paraná e no Brasil, ano a ano
(óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente)
Paraná
2020: 900
2019: 944
2018: 915
2017: 774
2016: 760
Brasil
2020: 12.751
2019: 13.520
2018: 12.733
2017: 12.495
2016: 11.433
Unidades da federação com mais registros de suicídio em 2020
(comparação em números absolutos)
São paulo: 2.333
Minas Gerais: 1.428
Rio Grande do Sul: 1.396
Paraná: 900
Santa Catarina: 76
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde
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