terça-feira, outubro 19, 2010

Áudio complica os braços entre Dilma, Erenice e Cardeal


Erenice: ‘Ainda vou sair e ganhar dinheiro‘

Um dos pivôs do escândalo de suposta corrupção na Casa Civil com seus filhos, irmãos e marido, a ex-ministra Erenice Guerra esperava faturar alto atuando como advogada de ex-membros do governo Lula também encalacrados em esquemas de propinoduto. Em conversa telefônica em 14 de maio de 2008, gravada pela Polícia Federal com autorização judicial, Erenice critica a atuação da polícia e confidencia ao exministro das Minas e Energia Silas Rondeau que, quando saísse do governo, pretendia “ganhar dinheiro” identificando erros em processos de investigados por corrupção.

Na gravação, divulgada ontem pelo jornal “Folha de S.Paulo”, Erenice tentava tranquilizar Rondeau, que havia deixado a pasta de Minas e Energia em meio a suspeitas de que teria participado de um esquema de tráfico de influência com Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O alvo da escuta era Rondeau.

— Fica tranquilo, meu amigo, isso não se sustenta, *Silas... Um dia eu ainda vou sair e vou ganhar dinheiro com essas coisas fora daqui. Eu fico completamente impressionada com a capacidade de instrução de inquérito falha que a polícia faz e a aceitação do Ministério Público.

( * - 15/06/2009 às 5:44 Ato secreto garante emprego no Senado a filha de aliado de Sarney, o ex-ministro Silas Rondeau http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ato-secreto-garante-emprego-no-senado-a-filha-de-aliado-de-sarney-o-ex-ministro-silas-rondeau/ )

É lamentável. Nós estamos vivendo uma disputa política e de politização do Judiciário, que é um negócio escandaloso — diz Erenice para Rondeau na conversa gravada.

Rondeau fez a Erenice uma consulta sobre o advogado para defendê-lo. Ela admitiu que havia chegado a pensar no ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para representá-lo. Mas no fim aconselhou Rondeau a manter José Gerardo Grossi como seu advogado e não usar o dos demais acusados.

— Acho o seu mais experiente — justificou Erenice.

À época, Erenice enfrentava a acusação de ter elaborado um dossiê contra a ex-primeira-dama Ruth Cardoso com o objetivo de evitar a instalação da CPI dos Cartões Corporativos. Embora a PF, então, tenha comprovado que a planilha com os dados da ex-primeira-dama realmente havia sido confeccionada dentro do Palácio do Planalto, a investigação acabou ficando suspensa por 15 meses e teria sido retomada apenas em março deste ano, quando o Ministério Público apresentou um pedido de acareação e depoimentos. Informações de O Globo.

Dona Dilma e seus dois ex-presidentes da Eletrobrás, Valter Cardeal e Silas Rondeau

Na última semana, analisei trechos do material encontrado no computador de Protógenes Queiroz e encaminhado à CPI dos Grampos.

Um documento, em particular, tem de ser mais debatido: o relatório no qual os agentes engajados pela PF comentam, com linguagem rasteira, os boatos sobre os relacionamentos amorosos de Dilma Rousseff.

Numa homenagem a Protógenes Queiroz, que sempre manifestou um interesse especial pela cultura indiana, chamei esse relatório de Kama Sutra da Satiagraha.

O Kama Sutra da Satiagraha tem como protagonistas Dilma Rousseff e outros dois nomes: o primeiro, como mencionei em minha coluna, é Valter Cardeal, diretor da Eletrobras. Em 2007, depois de ter sido nomeado presidente da empresa, ele foi grampeado pela PF e denunciado por envolvimento com o esquema de propinas da empreiteira Gautama.

O segundo nome eu prefiro manter em respeitoso sigilo porque ele, Silas Rondeau - Epa! -, nunca precisou da ministra para fazer carreira, já que é visceralmente ligado ao grupo de José Sarney. O que importa, em seu caso, é o seguinte: na Operação Navalha, ele também foi acusado pela PF de envolvimento com o esquema de propinas da Gautama.


Zeca Diabo em mais uma história mal explicada

Na primeira reportagem de
VEJA sobre o conteúdo do computador de Protógenes Queiroz foi reproduzida uma passagem escandalosa que, estupidamente, acabou sendo ignorada na cobertura da imprensa. Ela diz: "Para cada tonelada de álcool, é pago US$ 1,5 para o Silas. O Zeca é dono da Dilma.

Na estatal, ganham Sarney, Romero Jucá, Renan e Barbalho". Interpretando: Silas só pode ser Silas Rondeau.

Quem é que lhe paga um dólar e meio? Alguém já perguntou a Protógenes Queiroz? O que significa aquela frase sobre Zeca, ou Zeca Diabo, ou José Dirceu, ser dono da Dilma? Que estatal é essa que gratifica José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros e Jader Barbalho? Na CPI dos Grampos, Protógenes Queiroz tem de ser esmagado contra a parede até responder essas perguntas.

Quando VEJA publicou sua reportagem, Protógenes Queiroz alegou que, em seu computador, havia apenas fragmentos da Satiagraha. Mentira. Os trechos envolvendo Dilma Rousseff, Valter Cardeal, Silas Rondeau e todos os outros referem-se claramente ao setor de energia.

A suspeita é que a PF tenha um aparato de espionagem que passa dados sigilosos de um inquérito para o outro, sem o menor controle da autoridade judiciária.

Dessa maneira, o conteúdo de um grampo realizado para a Operação Navalha pode ser repassado clandestinamente para a Operação Boi Barrica ou para a Operação Satiagraha.

Os delegados que fazem parte desse aparato tornam-se proprietários de notícias valiosas, que podem ser usadas contra quem lhes interessa.

Por isso as operações da PF fazem tanto barulho, mas raramente resultam em condenações. O que interessa, no caso, é a posse da informação, e não a informação em si. O perigo é um só: que a informação se transforme em matéria-prima para achaques.

À primeira vista, o Kama Sutra da Satiagraha é somente uma bizarrice repugnante. Mas ele pode ajudar a esclarecer como alguns agentes da PF garantiram a impunidade a um bocado de gente associada ao governo. Basta descobrir o que Protógenes Queiroz pretendia obter com aquele "dólar e meio pago para o Silas".
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