 Integrante do Gaeco coloca documentos da Assembleia em uma Kombi, durante operação realizada no último sábado
Integrante do Gaeco coloca documentos da Assembleia em uma Kombi, durante operação realizada no último sábadoApenas três dias após ser alvo de uma operação de busca e apreensão de documentos comandada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Assembleia Legislativa do Paraná decidiu retaliar o órgão que a investiga.
Ontem começou a tramitar uma proposta de emenda à Constituição do Paraná (PEC) para proibir a cessão de policiais civis e militares para o Ministério Público Estadual (MP). Caso seja aprovada, a PEC pode inviabilizar a atuação do Gaeco, braço do MP que conta com a colaboração de policiais cedidos pelo governo estadual para combater organizações criminosas.
A emenda constitucional, para começar a tramitar, tem de ser assinada por pelo menos 18 dos 54 deputados. A reportagem não conseguiu apurar, porém, quem foram os parlamentares que referendaram o texto e de quem é a autoria da emenda.
Todos os deputados que foram ouvidos pela Gazeta do Povo informaram não ter assinado a PEC. Sob a condição de terem seus nomes mantidos em sigilo, eles afirmaram que a proposição da mudança constitucional é clara retaliação ao mandado de busca e apreensão cumprido dentro da Assembleia e uma forma de tentar frear as investigações do MP abertas após a série de reportagens “Diários Secretos”, da Gazeta do Povo e da RPCTV. Promotores também concordaram com essa avaliação.
Embora o objetivo real da proposta seja retaliar o Gaeco, oficialmente a justificativa da emenda é prevenir casos de desvio de função nas polícias Civil e Militar, além de aumentar o efetivo policial nas ruas.
A PEC começou a tramitar apenas um dia depois que o presidente da Assembleia, Nelson Justus (DEM), classificou a operação do Gaeco como uma invasão arbitrária e uma afronta ao Poder Legislativo. Justus, em discurso na tribuna, criticou duramente a atuação do MP.
Inconstitucionalidade
Se for aprovada, a PEC não deve dificultar apenas o trabalho do Ministério Público, pois ela proíbe a cessão de qualquer funcionário estadual a outros entes da administração pública do Paraná.
Para o professor de Direito Constitucional Egon Bockmann Moreira, da Universidade Federal do Paraná, as restrições excessivas tornam a PEC inconstitucional. “Os deputados não podem estabelecer limites formais ao funcionamento interno da administração pública. Uma ação muito restritiva significa a interferência direta, o que quebra o princípio da separação dos poderes”, argumenta o professor.
Moreira lembra que, se a emenda for aprovada nos termos apresentados ontem, o próprio governador não poderia contar com aparato policial para sua segurança pessoal. O Judiciário também precisaria contratar segurança particular em vez de solicitar apoio da PM quando necessário. “Acredito que os deputados não têm real noção do que estão tentando proibir”, avalia.
O Ministério Público informou que não vai se pronunciar oficialmente sobre a PEC até que a proposta seja formalizada. Há sete Gaecos espalhados pelo Paraná, que funcionam num sistema de parceria entre promotores e policiais. Entre policiais civis e militares, aproximadamente 50 integrantes das polícias fazem parte desses grupos.
Tramitação
O projeto agora será analisado por uma comissão especial de deputados, antes de ir à votação em plenário. Para ser apresentada, uma proposta de emenda constitucional precisa das assinaturas de um terço dos deputados: no caso, 18 dos 54 – o que já ocorreu. Depois, há um prazo de três dias para que alterações sejam apresentadas.
A partir daí, os líderes partidários têm mais cinco dias para indicar membros da comissão especial, que será formada por cinco integrantes. O relatório da constitucionalidade da proposta deve ficar pronto em 20 dias.
A PEC vai então à votação em plenário. Para ser aprovada, precisa do voto nominal de três quintos dos deputados: no caso, 33 dos 54 parlamentares. São apenas duas votações, com o intervalo de cinco sessões entre cada uma. Uma PEC, ao contrário dos projetos de lei, não exige a sanção do governador – a própria Assembleia promulga a mudança na Constituição Estadual.
Com informações da Gazeta do povo
 
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