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Até prova em contrário, até os crocodilos são inocentes


Nota oficial divulgada pela Justiça Federal no fim de semana, sobre a Operação Dallas, faz as ressalvas de praxe: até prova em contrário, são inocentes as dez pessoas presas, assim como as demais citadas como envolvidas em supostas irregularidades no Porto de Paranaguá investigadas pela Polícia Federal. Tudo de conformidade com o artigo 5.º da Constituição Federal, que é claro: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.”

Perfeito. É assim que as coisas funcionam num estado democrático de direito como o que, felizmente, vivemos no Brasil desde que, há 25 anos, superamos o negro período da exceção. Entretanto...

Entretanto, não se pode deixar de considerar no mínimo espantosas – para não dizer previamente condenatórias, segundo o senso popular – as conversas telefônicas gravadas entre alguns dos arrolados na investigação da PF. Trechos publicados ontem por esta Gazeta do Povo – nos quais Daniel Lúcio de Souza (ex-superintendente da Appa) e o empresário Alex Hammoud (intermediário nas negociações) combinavam a divisão dos “lucros” na compra da draga – inspiram meditações a respeito desse tal senso popular que, para a Justiça, nada ainda representa.

Os diálogos se parecem – como diz a voz do povo – de beira de cais. E quem está acostumado ao noticiário criminal das favelas do Rio de Janeiro também não estranha o uso de codinomes que os interlocutores atribuem aos colegas enredados na trama. Um, referindo-se a Eduardo Requião, chama-o de “Crocodilo” (*); outro identifica como “Grego”, o empresário Georges Pantazis, dono da Interfabric, uma das duas empresas que participaram da licitação da draga. “Japonês” é Gilberto Na­­ga­sawa, dono da outra firma, a Global Connection, dada como vencedora da concorrência. O ex-governador Roberto Requião é designado como “Chefe”.

Os autores das conversas tão pouco republicanas têm o direito de usar os meios cabíveis para safar-se. Por exemplo, podem alegar que as vozes gravadas não são suas. Podem afirmar que o que disseram tinha sentido diverso, contrário daquilo que lhes querem imputar. Podem argumentar que as falas foram editadas e tiradas do contexto. Podem, enfim, lançar mão de uma infinidade de subterfúgios e recursos que advogados bem pagos terçam com maestria para convencer a justiça da inocência de seus clientes.

Ah! Mas o senso popular... desse é difícil de escapar. Enquanto isso, porém, “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.”

(*) Do dicionário Aurélio:

Crocodilo – Designação comum aos répteis crocodilianos, em especial aos do gênero Crocodilus.

Crocodiliano – Ordem de répteis de grande porte, coração com quatro cavidades, fenda anal longitudinal, dentes alveolados e palato bem constituído. Habitam os rios, deixando à tona da água só as narinas e os olhos.

Olho vivo

Quem sabe? 1

“Tão perto de mim distante” é um dos versos da valsinha “Quem sabe”, que Carlos Gomes – o grande maestro brasileiro – compôs em 1859. Assim como Lula, que esteve tão perto dos operadores do “mensalão”, nada sabia, também o governador Roberto Requião desconhecia por completo o que se passava dentro do seu gabinete em relação à compra da draga pelo Porto de Paranaguá. Era um assunto, pelo jeito, que estava longe de seu interesse – muito embora carregue nas veias o axioma udenista da “eterna vigilância”.

Quem sabe? 2

Segundo apurou a Operação Dallas da Polícia Federal, secretários especiais que trabalhavam em seu gabinete atuaram na montagem da compra fraudulenta da draga. Um deles, Luiz Mussi; outro, Carlos Moreira, o “reitor Moreira” (da campanha pela prefeitura em 2008). O governador não viu nem sabia de nada. Das gravações feitas pela PF, no entanto, consta uma afirmação do ex-superintendente da Appa, Daniel Lúcio de Souza, segundo a qual Requião o ameaçava de demissão caso não viabilizasse a urgente compra do equipamento.

Quem sabe? 3

Nesse trecho, Daniel se refere ao fato de que, a partir do momento em que o governador assinasse o ato de homologação do resultado da licitação, estariam convalidados também os “problemas” do processo.

Fonte:http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1089641&tit=Ate-prova-em-contrario-ate-os-crocodilos-sao-inocentes

Comentários

Anônimo disse…
E os pobres radialistas ... continuam presos!!!!

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